Autora por Eneida Ferreira
No último ano da formação em Fisioterapia, a Universidade exige um trabalho de conclusão de curso (TCC), que tem como um dos objetivos incentivar o indivíduo à pesquisa.
Foi a oportunidade de aplicar o método Rolfing® com um olhar acadêmico, tendo o cuidado de registrar dados, em relação aos atendimentos, seguindo uma metodologia pré-definida, por mim e pela orientadora Profª Msc. Regina Célia Torres Freire, usando ferramentas reconhecidas, para poder chegar a uma análise de resultados sem grandes contradições, mesmo porque no final esta pesquisa seria defendida perante uma banca, como ocorreu em dezembro de 2007.
O objetivo foi avaliar a efetividade do Rolfing® em um indivíduo com lombalgia, verificando: as alterações posturais; as alterações do grau de dor, na região lombar, durante e ao término do tratamento; e as mudanças em sua qualidade de vida.
O estudo teve um delineamento experimental de sujeito único (relato de caso). Foi selecionado um indivíduo, com 33 anos, que apresentava lombalgia crônica há 8 anos. Foi realizado um total de dez sessões em um período de onze semanas.
Na análise do caso foi utilizado para a avaliação postural: fotos antes do tratamento e após a 10º sessão. Para avaliação da dor: a escala visual analógica (EVA) no início e no final de cada sessão. E para avaliação das mudanças na qualidade de vida: a gravação de um roteiro de entrevista semi-estruturado.
Resultados
AVALIAÇÃO POSTURAL
Nas figuras abaixo observamos as fotos tiradas na 1º sessão e na 10º sessão. Ao comparar as figuras é possível perceber que após as sessões ocorreu uma melhora na protusão da cabeça, na hiperlordose lombar e na anteversão da pelve.
3A – antes da 1º sessão 3B – depois da 10º sessão
As mesmas alterações observadas em vista lateral esquerda observa-se em vista lateral direita ao se comparar as fotos antes da 1º sessão com as fotos da última sessão. Como se percebe na figura 4B abaixo ocorreu uma melhora na protusão da cabeça, na hiperlordose lombar e na anteversão da pelve.
4A – antes da 1º sessão 4B – depois da 10º sessão
Na vista anterior, como demonstrado na figura 5, nota-se que na 10º sessão houve uma melhora no alinhamento da linha mediana e dos membros inferiores. Observa-se ainda um equilíbrio entre os dois lados do ângulo de tales.
5A – antes da 1º sessão 5B – depois da 10º sessão
Em vista posterior, ao se comparar às fotos da 1º sessão com a 10º sessão observa-se que houve um melhor posicionamento da cabeça em relação ao tronco, diminuição da hiperlordose lombar e um melhor alinhamento dos membros inferiores, principalmente o esquerdo.
6A – antes da 1º sessão 6B – depois da 10º sessão
Nos resultados da avaliação postural através de fotos tiradas antes da primeira sessão e ao término da décima, se verifica uma melhora no alinhamento postural. Nota-se no final do décimo atendimento que a paciente já não apresenta: hiperlordose lombar, anteversão da pelve, anteriorização da cabeça e os membros superiores se encontram mais medializados, equilibrados em relação ao tronco. Percebe-se um alongamento no eixo medial, no Rolfing® se coloca como “linha interna”, dando a sensação que ela está mais alta. Houve uma inversão do sentido das vértebras para cefálico ao invés de caudal, gerando uma descompressão articular, consequentemente, diminuição da dor.
Ela relata no final do processo:
“… eu estou mais alinhada, parece que você me posicionou, parece que eu tô mais equilibrada, deixei de tá torta, que quando eu cheguei aqui eu me sentia um lado maior que o outro, agora eu não me sinto mais assim, e sempre quando eu relaxo e fico de qualquer jeito o músculo puxa daqui dali, opa, dou uma mexida então é isso, acho que teve muito ponto positivo…”.
GRAU DA DOR
Na figura 1, observa-se o grau de dor da lombar antes de cada sessão e ao término da mesma, durante as dez sessões de Rolfing®. Observa-se que o grau de dor antes da 1º sessão era 4. A partir da 6º sessão observa-se ausência da dor, permanecendo assim até a finalização do tratamento.
No primeiro atendimento, ela chegou com grau 4 de dor na lombar e saiu com 2,5 na lombar, relatando sair bem.
Ao retornar para a segunda sessão apresentou-se grau de dor 9,5 na lombar, saindo com 0 na lombar. Relatou que teve, neste intervalo, uma piora no quadro de dor, tendo uma necessidade de se alongar várias vezes, sempre se referindo a toda cadeia muscular posterior. Neste segundo atendimento foi permitido que a pelve retrocedesse em relação a horizontalização conquistada na sessão anterior, voltando assim, um pouco para anteriorização, juntamente com a hiperlordose lombar.
Foi após a terceira sessão que o grau de dor foi para zero e praticamente se estabilizou até o final do processo.
Na semana seguinte por questões familiares a paciente não pode comparecer. O fator positivo de ter interrompido o intervalo de uma semana, foi poder observar que ela ficou 14 dias sem atendimento e o grau de dor se manteve zero.
Neste estudo as alterações em sua qualidade de vida foram observadas através da gravação dos depoimentos da paciente (E.S.C.J.). Onde foi possível notar uma melhora em seu sono e na execução de suas atividades diárias.
Ao término do trabalho verificou-se a diminuição do grau de dor, a melhora das alterações posturais, melhora da percepção corporal e mudanças positivas na qualidade de vida da paciente.
Concluindo, neste estudo o método Rolfing® se mostrou efetivo em um indivíduo com lombalgia crônica. Mas ainda se faz necessário novas pesquisas com amostras mais expressivas para avaliar a real efetividade do Rolfing® em indivíduos com lombalgia crônica.
Espero que este trabalho, entre outros, sirva como incentivo para todos os rolfistas se aterem a importância de trabalhos científicos, que possam demonstrar os resultados do método Rolfing®, fazendo com que esta informação chegue até outros profissionais da área da saúde, como por exemplo: os médicos, que recebem todos os dias vários pacientes com problemas que tem como causa a falta de alinhamento postural (integração estrutural).
Além de ser uma forma de divulgarmos o que nós fazemos, é uma ferramenta para se esquematizar de uma maneira clara o que realmente acontece dentro dos nossos consultórios quando utilizamos este método.
Grande abraço a todos.
Eneida Ferreira.
*Artigo pulicado na edição 26 do Informativo ABR em Agosto de 2008.