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Integração Estrutural Uma contribuição à compreensão do estresse

Redação ABR

Autora: Ida P. Rolf
Tradução: Hulda Bretones

A fáscia envolve músculos e órgãos. O controle da posição dos blocos de peso no espaço se faz através destes invólucros fasciais. A resposta, anteriormente apropriada, mas agora obsoleta, reflete uma interferência no fácil deslize ajustado dos planos fasciais, necessário aos movimentos livres e econômicos. Os mecanismos compensatórios têm origem nas leis da mecânica, e operam dentro destas leis da mecânica. Um acidente, uma postura habitual, ou a dramatização de uma atitude emocional pode distorcer o alinhamento vertical dos blocos de peso. Depois, é o envelope de revestimento.

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Existem muitos padrões de desintegração. O encurtamento fascial pode causar um leve deslocamento de partes do corpo. Ou, envelopes fasciais podem grudar às unidades fasciais vizinhas, fazendo com que várias destas camadas elásticas formem uma unidade menos maleável, um tecido menos móvel. Ou, o problema pode se traduzir em movimentos restritos nas articulações, aonde os tendões se encurtam ou se deslocam. Uma vez iniciados, os padrões de desintegração são automaticamente progressivos. Enquanto o encurtamento e espessamento da fáscia progridem, as cavidades corporais diminuem ou são distorcidas; segue-se compressão visceral. Subjetiva e objetivamente, o quadro é de um constante decréscimo de energia e diminuição do bem-estar .

TAYLOR (1958) chamou atenção para a possibilidade de que o mecanismo de deterioração se deva a uma mudança química ou física da substância de base e da lâmina fibroareolar da fáscia. Ele também afirmou que enquanto a energia pode deixar, e realmente deixa, tais sistemas quando eles estão em uma condição de deterioração espontânea,  revertendo-se a condição,  a energia química ou mecânica pode aumentar novamente; o equilíbrio é reversível, dentro de certos limites. A elasticidade pode ser recuperada, ele argumenta, em todas as áreas, exceto em áreas nas quais o nível de deterioração é tal que tendões elásticos tornaram-se cartilagens extremamente não elásticas. Esta tem sido também a nossa observação. O nível de energia pode aumentar novamente; o processo é reversível através do re-estabelecimento do padrão.

Restabelecer padrões exige mais do que o estiramento casual (aleatório) de áreas localizadas. Existe pouca dúvida de que a manipulação profunda, qualquer que seja, dos músculos transforma a energia e, em fazendo isto,  adiciona oxigênio e outros elementos metabólicos ao nível celular. Massagem, uma antiga terapia, demonstra isso. Mas, um efetivo, contínuo e espontâneo funcionamento da máquina energética que chamamos homem, demanda que todas as partes vitais da máquina estejam livres para moverem-se em reciprocidade. Cada membro, por seu próprio movimento, deve espontaneamente recuperar a energia despendida por seu antagonista. O óbvio e mais superficial equilíbrio agonista/antagonista é entre flexores e extensores. Ë característica do corpo aleatório que os extensores pós-vertebrais tenham sido sobrecarregados pelos flexores pré-vertebrais. O resultado é perda de tônus e vigor nos extensores. Eles se tornam espacialmente deslocados, muito separados da espinha; na flexão, eles se desviam da espinha, ao invés de se alongarem junto com ela. O resultado é o que comumente chamamos má postura.

Libertar o movimento em um corpo desorganizado através de uma série de manipulações, pressupõe uma nítida realidade no que diz respeito  à totalidade da estrutura miofascial do indivíduo. O local preciso da restrição inicial e como ela ocorreu são considerações interessantes, mas nem assim se está perto do problema. Como dissemos, a interferência local em qualquer parte na estrutura miofascial espalha-se rapidamente. Isto é verdade em acidentes traumáticos.

Afortunadamente, isto também é verdadeiro na reabilitação através da manipulação. O primeiro cria compensações e tensões através de todo o corpo; o segundo, através do planejamento, os reduz. Frequentemente o resultado é registrado subjetivamente como vindo de partes do corpo bastante distantes do primeiro ponto de tensão, ou mesmo da intervenção através da manipulação original. Se uma tensão é antiga, libertar o local – mesmo que no ponto original do impacto traumático – basicamente não alivia o padrão generalizado, embora temporariamente ele possa ser mudado desta forma e a mudança possa ser bem-vinda pelo sujeito.

O conforto fundamental após o estresse físico depende do alinhamento vertical do centro de gravidade de todas as mais importantes unidades de peso (cabeça, tórax, pelve). Este tipo de alinhamento só pode seguir-se a um reajustamento equilibrado das restrições e trações miofasciais. Cada elemento miofascial deve tornar-se resiliente; dentro de estreitos limites, independente, e participando em todo o quadro, livre para ocupar o lugar preciso apropriado ao padrão de movimento. A ênfase aqui é em aliviar a tração descendente, o efeito destrutivo da gravidade, e então diminuindo a taxa de desorganização no sistema. Neste ponto, enquanto o padrão negativo desaparece, um novo efeito emerge. A direção é revertida. Assim como o desequilíbrio e a degeneração são cumulativas, também a regeneração e o movimento na direção do equilíbrio, uma vez iniciados, são auto-alimentadores. Este é o aspecto beneficente Da plasticidade. O efeito desorganizador da gravidade em um sistema desequilibrado aumenta o envolvimento aleatório de grupos musculares para compensar o desequilíbrio. Livre desta tendência, um equilíbrio maior nos extensores pós-vertebrais evoca maior atividade nas estruturas de sustentação mais profundas, os músculos intrínsecos da espinha. Este é um novo padrão de comportamento. Um padrão que surge incluindo o componente da gravidade como um fator integrativo e significativo. O negativo fardo da gravidade parece transformado em uma força de sustentação que ergue. O indivíduo expressa subjetivamente um alegre reconhecimento da direção que chamamos ‘para cima’ (‘em pé’).

Na Integração estrutural nós decidimos denominar de movimento ‘normal’ somente quando o movimento satisfaz o pré-requisito de que, em flexão, quando os flexores flexionam, os extensores estendem – alongam. Neste movimento ‘normal’, contraindo os músculos flexores estendemos os músculos extensores respectivos; o movimento é assim um exercício inerente e espontâneo para ambos, transformando energia mecânica em energia química do metabolismo. Então, a mecânica do movimento determina a economia das células individuais. Tais ciclos devem ser recíprocos, porque é esta reciprocidade que garante o equilíbrio que subjaz ao bem-estar.

A destruição ou a interrupção destes ciclos ideais pode ocorrer, e de fato ocorrem, em muitos níveis. A limitação do movimento, registrada como interferência e deterioração em qualquer um dos membros do ciclo, é a regra, ao contrário de ser a exceção. É comum. A deterioração nutricional resultante das tendências genéticas certamente deve ser um fator que contribui para tal. Mas possivelmente a mais básica e universal ruptura no funcionamento é a interferência mecânica. Um desequilíbrio, mesmo que embora ele possa começar como uma situação limitada e temporária (um joelho torcido), permite que a campo gravitacional imponha sua força de direção sobre os elementos estruturais. Se a limitação continua por mais que poucos dias, a compensação está estabelecida. Com o tempo, isso se estende.

Modificações penetram em muitos níveis profundos e para diversos locais em qualquer profundidade.  Assim, um trauma ‘temporário’ pode resultar em uma restrição crônica, e será espelhada em um funcionamento fisiológico inapropriado, em muitos níveis e muitas profundidades. Este processo pode ser revertido; a estrutura fascial pode ser reorganizada; nomeadamente, reorganizada como um todo. O realinhamento vertical apropriado dos segmentos de peso traz novamente ordem à estrutura e ao equilíbrio do funcionamento corporal.

O trabalho atual de manipulação da fáscia traz à mente a humilde e modesta cebola. Uma camada dentro de outra camada. Camadas mais profundas podem ser atingidas somente quando uma camada mais superficial perde a rigidez que assinala o desequilíbrio. A introdução de energia mecânica ocorre com qualquer pressão através da manipulação (por exemplo, a massagem); mas se a pressão através da manipulação é realizada com o intuito de mudar a posição espacial da fáscia (deslocada, encurtada, ou de qualquer outra forma aberrada) na direção requerida para uma estrutura normal ordenada, a introdução da energia deixa de ser casual, e torna-se especificamente relacionada à tarefa requerida. Isto é verdade especialmente se um movimento apropriado, alinhado (não casual) é exigido de determinada parte do corpo.  Estes são os métodos básicos da Integração Estrutural. O tecido fascial é movido na direção específica exigida pelo seu planejamento original. Do grau no qual isto é realizado, o alívio do estresse físico é segura e previsivelmente alcançado. O estresse físico reflete sofrimento emocional; o alívio da constrição física efetivamente influencia a miséria emocional. (É tentador especular, neste estágio,  que o equilíbrio de um corpo é a manifestação externa do alongamento físico das moléculas de colágeno. De acordo com VERZÄR [1963], isto poderia ser o resultado de uma diminuição do número de ligamentos cruzados de éster, aumentando o número de ligações cruzadas de hidrogênio. Tal especulação, de qualquer modo, requer um estudo muito mais extensivo.)

A estrutura em um homem ereto deve ser avaliada em termos de linhas horizontais e verticais, linhas imaginárias desenhadas através de pontos reais do homem. Então, as espinhas antero-superiores da pelve, ou os centros das patelas, deveriam ser linhas horizontais. Dependendo da extensão na qual um corpo se conforma a estas linhas, nós o consideraríamos equilibrado.  Uma linha de medida de avaliação segura do equilíbrio é o padrão do corpo móvel como revelado na ação da articulação. Um corpo equilibrado moverá de acordo com linhas retas. Estas devem ser vistas como contrapartes dos eixos XYZ, através dos quais a posição espacial de qualquer sistema tridimensional é descrita. Em adição aos eixos horizontal e vertical, o eixo Z descreve a linha do movimento.

O eixo vertical emerge do ponto alto da cabeça, o mais alto ponto de interseção dos planos coronal e medial-sagital. A primeira insinuação de movimento equilibrado em um corpo é um ligeiro, leve e espontâneo alongamento ao longo deste eixo vertical. Isto acontece não somente quando apenas os flexores e extensores gerais do corpo movem reciprocamente, mas em adição, quando os músculos intrínsecos profundos da espinha cooperam com os músculos extrínsecos mais superficiais. Esta é uma marca do verdadeiro equilíbrio. O indivíduo mesmo pode não ser capaz de dizer que isto é ‘algo novo’ em relação à tão leve alongamento; mas para ele, o que quer que isto signifique, ‘faz me sentir tão bem’. Traz a sensação de leveza, faz sentir como se ele estivesse flutuando acima do chão. Ele está experimentando o suporte do campo de gravidade, que não está mais puxando ele para baixo. Ele está experimentando sua própria estrutura intrínseca equilibrada com a extrínseca.

O eixo horizontal descreve primariamente o movimento da cintura escapular (ombros) e braços. Quando os braços e a cintura escapular movem-se apropriadamente, o olecrano gera uma linha horizontal: Qualquer movimento do braço começa no olecrano, que com isso move-se horizontalmente para fora (talvez apenas uma fração de polegada). Se o movimento desejado é o de uma direção verdadeiramente lateral, ele é iniciado por um encurtamento do grande dorsal; se em uma direção medial, o peitoral maior e menor são os que encurtam. Os movimentos do braço são pois iniciados por grandes músculos do tronco. O movimento inicialmente originado envolve apenas os peitorais ou o grande dorsal, embora ele possa ser imediatamente modificado pelos músculos menores da cintura escapular e braço.

O eixo Z descreve a linha de movimento da perna. O movimento apropriado do membro inferior requer que a patela siga esta linha reta para frente. A integração envolvida dará impulso ao andar no seu padrão mais econômico. O movimento é iniciado pelo ílio-psoas e pelos músculos glúteos, e o equilíbrio resultante do abdutor-adutor-rotador adiciona ainda mais economia de energia. Isto contrasta marcadamente com o caminhar comum, no qual o quadríceps, particularmente o reto femoral, origina o movimento. No caminhar equilibrado, a perna move-se em linha reta para frente; ela balança. O reto femoral não precisa levantar a perna.

Na medida em que um corpo progride em direção ao equilíbrio, o movimento é caracterizado e definido por estes eixos. Solicitar que um corpo organizado aleatoriamente siga estas linhas cria alguns graus de equilíbrio. De qualquer modo, isto pode ser severamente limitado. Movimentos permanentemente melhores, aperfeiçoados, só podem acontecer removendo-se as limitações compensatórias. Isto, alcançado por um programa que evoque um padrão de movimento mais positivo, cria um grau de bem-estar no indivíduo que ele próprio descobre ser notável. Para o sujeito não existe dúvida de que o estresse foi dissipado. Ele chama a si mesmo de ‘ligado’ ; ocorreram modificações na consciência.

Algumas documentações objetivas dos efeitos da Integração Estrutural na dinâmica metabólica e mecânica do indivíduo estão registradas nos artigos que seguem. Estes, embora ainda incompletos, estão mostrando os mecanismos envolvidos no estresse pessoal. O papel do sistema nervoso autônomo versus o sistema nervoso central no estabelecimento e manutenção das condições que tornam possíveis o grande significado do equilíbrio miofascial intrínseco-extrínseco requer futuros estudos especializados. Juntos, estes estudos apontarão o caminho em direção a compreensões diferentes do mecanismo que é o ser humano.

Este artigo foi originalmente escrito em 1969. Durante o intervalo de tempo decorrido desde então, até que fosse publicado, alguns programas experimentais relativos a uma maior compreensão das implicações da Integração Estrutural foram efetuados. Um dos programas mais significativos é o estudo eletromiográfico das respostas musculares durante os movimentos habituais simples, realizado por Dr. Valerie Hunt ‘Movemente Behavior Laboratory’ da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, USA. Suas conclusões enfatizam o resumo verbal dado aqui, em particular com relação à inversão e substituição do movimento.

Referências
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PAGE, L. E.: The role of the fasciae in the maintenance of structural integrity. Yb. Acad. Appl. Osteopathy 1952: 70.
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VERZÁR, F.: The aging of collagen. Sci. Amer.1963: 104 ff.

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