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Investigação das relações entre postura corporal e funções orais

Redação ABR

Autora: Beatriz Pacheco

Estou fazendo um balanço de dois anos do curso de fonoaudiologia e realizei um trabalho de iniciação científica nesse ano de 2014, com o objetivo de investigar se há relações entre postura corporal e funções orais e quais são elas. Levantei então uma série de artigos, teses, monografias, que em sua maioria relacionavam respiração e mastigação com a constituição craniofacial. Isso me levou a procurar bibliografia sobre a filogenia do crânio, ou seja, como se desenvolveu o crânio nos vertebrados.

Para minha surpresa vi que a respiração e a deglutição serviram de matriz funcional no aparecimento do Sistema Estomatognático. Moss & Salentijn (1969) elaboraram a hipótese da Matriz Funcional, que preconiza que o crescimento ósseo craniofacial é fruto da ação mecânica decorrente da ação muscular. Mais tarde essa hipótese se ampliou para todo crescimento ósseo, e não apenas para os da face.

Mas vamos à filogênese:

1) Os cordados ingeriam água por movimentos ciliares da membrana bucal (lembrando que da água ingerida eram retirados o oxigênio para a respiração, e o alimento).

2) Os pré vertebrados ingeriam água através dos movimentos da membrana bucal que geravam uma pressão negativa na cavidade oral, fazendo com que a água entrasse nela.

Nos vertebrados a faringe torna-se muscular e faz o bombeamento de água junto com o movimento bucal. O aumento na circulação de água trouxe o aumento respiratório, e alimentício, ou seja, aumento no metabolismo. A repetição do movimento bucal gera uma migração dos dois primeiros arcos branquiais, que se ossificam, dando origem às maxilas e ao osso hióide.

figura1

A mandíbula (gnatos) e a maxila aparecem conjuntamente com uma série de inovações evolutivas nas áreas neurais, sensoriais, morfológicas, miofuncionais e funcionais:

*área neural – aparecimento da bainha de mielina. Isso significa rapidez das respostas musculares, agilidade

*área sensorial – aparecimento de narinas pares e o aparecimento da linha lateral, que nos peixes serve como órgão de orientação espacial. Isso significa maior capacidade de detecção e localização de presas e predadores

*área morfológica – aparecimento de nadadeiras em pares com arcos. Trazendo maior velocidade

*área miofascial – aparecem os miômeros musculares em forma de W e as vértebras passam a ser completas, envolvendo a notocorda, substituindo os fragmentos ósseos dos pré vertebrados

*área funcional – surge a caça pela boca, e também surgirá a mastigação

A partir da especificação e fortalecimento das musculaturas ligadas à mandíbula, nos répteis, gerou-se uma migração da musculatura dorsal para a região oral, que passando pelas janelas temporais, essa musculatura foi se estabelecendo em torno do encéfalo e se inseriu nas articulações mandibulares. O crescimento dessa musculatura gerou a diferenciação entre o crânio e a coluna.

figura2

Vemos todo esse processo evolutivo se repetir na embriologia humana.

De todos os artigos levantados, 74, foram selecionados apenas os relativos às relações entre a respiração oral e suas consequências, 25. Desses 25 artigos, 56% referem-se à alterações respiratórias e suas consequências no sistema estomatognático e nas funções orais, 25,4% referem-se à consequências de alterações respiratórias no sistema estomatognático, e como elas se refletem em alterações na postura do crânio e na coluna cervical, 10% fazem relações entre respiração oral, Sistema Estomatognático e postura corporal; e o restante estabelece uma relação entre respiração oral e postura corporal.

O que se analisou em sua maioria foi que o desvio respiratório gera uma mudança na postura do crânio, causando um giro anterior, que facilita ao respirador oral ingerir ar. Esse giro compromete o equilíbrio do crânio sobre a coluna, o que desencadeará uma série de compensações da mesma, para manter a horizontalidade dos olhos.

Cabe falar que Rocabado (1983) tem uma visão do equilíbrio do crânio sobre a coluna que difere da visão de Rolf (1990). Para Rocabado, o maior peso do crânio está localizado à frente da coluna, apoiando-se em 3 articulações: atlantoccipital e têmporomandibulares. Sendo assim o equilíbrio do crânio depende do diálogo entre a musculatura vinda da cervical, a musculatura mastigatória, e a musculatura supra e infra hióideas. Para ele as duas primeiras vértebras cervicais respondem ao movimento das ATMs.

 

Considerações Finais

Tomando como referência a ideia formalizada por Maturana e Varella (1997) de que “a estrutura é a corporificação de suas relações”, vemos a respiração e a deglutição como “mães” do sistema estomatognático e da mastigação. Vemos também mastigação gerando a diferenciação entre crânio e coluna, portanto respiração, deglutição e mastigação interferem no equilíbrio do crânio, influenciando o funcionamento da coluna vertebral

Todas essas alterações podem ter duplo sentido, do funcional para o estrutural e vice versa, fluindo através da rede fascial.

* * *

Referências bibliográficas

Cleveland, P.H. ey al; Princípios Integrados de Zoologia. Guanabara Koogan, RJ,2013

Fonseca,V.da; Psicomotricidade e Neuropsicologia, uma abordagem evolucionista. Rio de Janeiro: EdWak,2010

Krakauer, L;Guilherme,A.; A Relação entre respiração bucal e alterações posturais em crianças: uma análise descritiva. Revista Dental Press Ortod. Ortop.Facial. Maringá,v. 5,n. 5, p.85-92, set/out, 2000

Rocabado Seaton; Physical Therapy and Dentistry: An Overview. The Journal of Craniomandibular Practice, v. 1,n. 1,p. 47-50, 1983

Tedeschi-Marzola, F.; A estreita relação entre a coluna cervicale a articulação temporomandibular: aspectos fisiotrapêuticos. Revista da Academia Tiradentes de Odontologia, p.269-284,2005

*Artigo pulicado na edição 38 do Informativo ABR em Julho de 2015.

 

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