No último 19 de maio, a drª. Ida Rolf completaria 123 anos.
Ela, tradicionalmente, comemorava essa data festiva, atendendo crianças. Muito sábia, a grande mestre.
Somos rolfistas por ela e seu legado. Ela olhou para a fáscia e nos fez compreendê-la, trabalha-la… buscar o movimento através dela.
Movimento é vida! Criança é tudo!
História
A cientista norte-americana Ida Pauline Rolf, PhD em Bioquímica, foi pesquisadora no Instituto Rockefeller, hoje Universidade, em Nova York, até o final da década de 20. Começou a trabalhar com manipulação da fáscia em 1940, quando atendeu uma pianista que havia caído num buraco de uma calçada em Nova York e machucado mãos e braço, impossibilitando-a de tocar. O trabalho com Rolf permitiu que voltasse a tocar e a ensinar música novamente.
Thomas Morrison, um osteopata cego, tratou Ida Rolf de um trauma por conta de um coice de cavalo, que levara quando jovem, no Colorado. O acidente deixou sintomas semelhantes aos de pneumonia. Esse trabalho despertou o interesse dela pela osteopatia. Mas ele foi aguçado antes, quando foi atendida num hospital em Montana, com 40º de febre, por um osteopata, a pedido de um médico.
Com o trabalho da osteopatia, ela voltou a respirar. Assim, ela ficou interessada pela “teoria da osteopatia, segundo a qual a estrutura determina a função” (FEITIS, 1986, p. 19). Ao alterar o modo como os ossos do corpo relacionam-se entre si, obstruções são liberadas entre as articulações, aumentando o bem-estar. O que dá para entender porquê funciona com lesões por impacto traumático, como foi o coice de cavalo que Rolf recebeu.
Rolf começou a desenvolver a Integração Estrutural Rolfing®, pelo seu “dom de entender os princípios básicos – novos e antigos – e a capacidade única de levá-los a um passo adiante” (FEITIS, 1986, p. 23). Ela investigava muitos trabalhos, como hatha ioga, osteopatia, homeopatia. Era uma incansável pesquisadora. Tinha uma capacidade ampla para relacionar conceitos, pensamentos, ensinamentos. Da osteopatia captou que o corpo é plástico; da homeopatia, que o corpo se autorregula e encontra sua própria cura; da ioga, que o corpo e a mente são partes de uma única coisa. Assim, o desenvolvimento global do ser pelo corpo pode mudar na direção de encontrar sua autorregulacao, sua cura. E Rolf observou que o princípio organizador dessa mudança do corpo era a gravidade.
Sam Fulkerson, um devoto da semântica geral, que conhecera pessoalmente Alfred Korzybski, criador dessa teoria, incitou Rolf a ensinar o que fazia e estudava.
E assim começou a lecionar mais para osteopatas e quiropratas. Mas não estava contente, porque esses profissionais começaram a usar o aprendizado como auxiliar em suas atividades. A Integração Estrutural, como assim denominou, começou a ser usada em pedacinhos por outros profissionais, também. Alguns, chegaram até a alegar que seu trabalho não funcionava. A tendência era considerar o seu trabalho como uma técnica e não como um ponto de vista. Rolf não pretendia curar sintomas, e sim “criar seres humanos melhores”, escreve Feitis (1986, p. 26): “os males curar-se-iam por si mesmos: os sintomas desapareceriam à medida que os organismos se tornassem equilibrados. A cura de sintomas desencadeia uma caçada interminável pelo corpo todo”.
Ensinar o que sabia, o que pretendia, foi um caminho espinhoso. Ensinar do zero não é fácil. Mas Fulkerson estava certo ao dizer que para a Rolfing® IE sobreviver, Rolf tinha de ensiná-la. Juntando suas ideias e conhecimentos com a Lei da Gravidade, a lógica do corpo, e o seu próprio entendimento do que é o equilíbrio, chegou ao trabalho para a criação de equilíbrios, começando pela superfície do corpo e gradualmente atingindo-o em maior profundidade. A sequência das 10 sessões de trabalho idealizada, a Receita, que seguimos basicamente até hoje, foi transmitida pela primeira vez, nos anos 50, para uma turma em Tunbridge Wells, Inglaterra.
Nunca é fácil manter a integridade de um novo sistema de trabalho, principalmente quando se trata de uma técnica manipulativa. Rolf fez tudo o que podia para proteger a sua criação intelectual. Ela queria evitar a mecanicidade de métodos, que já existia na quiropraxia da época. Até solicitou documentos assinados de seus alunos, observando que só ensinassem Integração Estrutural Rolfing depois de a praticarem por 5 anos. (FEITIS, p.28). Posteriormente, em 1973, o ensino veio a ser administrado pelo Rolf Institute, fruto da organização de um grupo de praticantes, que já vinha tentando se estruturar desde 1970.
Mas foi em Esalen, na década de 60, num verdadeiro laboratório de novas ideias, técnicas e experiências, que Rolf atendia e começou a ensinar para um público conectado e diferenciado. Foi quando surgiram as expressões “ser rolfado” e “rolfing”.
Esalen se constituía de um grupo de edificações ao lado da Highway 1, uma auto-estrada, em Big Sur, entre São Francisco e Los Angeles, na Costa da Pacífico, nos EUA. Na década de 60 pretendia-se fazer um “ashram” para aprendizado de técnicas orientais. Mas abriu-se a “caixa de pandora” para técnicas psico-ativas. Abraham Maslow, Rollo May, Will Schutz entre outros pensadores passaram a dar workshops por lá. Fritz Perls, pai da gestalt-terapia, também esteve por lá. Rolf, inclusive. E foi quando e onde ela encontrou alunos diferentes, “descontentes com o conjunto consagrado de valores culturais dominantes” (Feitis, 1986, p. 31). E foi também nesse local com problemas até de logísticas, viviam-se até em Kombis, que começaram as pesquisas científicas sobre a validade da IE-Rolfing e a gestação do livro Rolfing: The Integration of Human Structures, lançado em 1977, com participação de Feitis, textos, e John Lodge, nas ilustrações.
Em 1969, o projeto de pesquisa fervia. Ondas cerebrais, perfis psicológicos, amostras de sangue e urina, eram todos testados antes, durante e depois das 10 horas de aplicação de Rolfing. A dra. Valerie Hunt do Laboratório de Movimento Humano da UCLA media o potencial muscular de diferentes partes do corpo, durante várias atividades. Depois de muito trabalho e dificuldades, nem computadores tinham, chegou-se a conclusão de que a IE-Rolfing “aproxima um sistema de sua normalidade e o torna mais eficiente no uso de sua energia” (FEITIS, 1986, p 34).
Rolf trabalhou até muito idosa e faleceu em 1979. O Dr. Ida Rolf Institute® (DIRI), fundado em 1971, com sede em Boulder, Colorado, é ainda hoje a entidade responsável pela formação profissional de rolfistas no mundo todo. Inclusive no Brasil, por meio da Associação Brasileira de Rolfing® (ABR).
Na década de 70 começou-se falar de Rolfing® no Brasil. José Angelo Gaiarsa, pioneiro em abordagens corporais no Brasil, trouxe James (Jim) Hrisikos dos EUA para fazer sessões por aqui. Pedro Prado foi um dos que a receberam. E em 1981, Prado volta dos EUA, rolfista, pronto para atender no País.
Em 1988, no Brasil, em São Paulo, por também intervenção de Prado, é fundada a Associação Brasileira de Rolfing® (ABR), que passa a organizar e dar cursos no Brasil e a treinar professores. Todos são filiados ao DIRI, e muitos lecionam no mundo todo. Dez anos depois, em 1998, é criado o Núcleo de Atendimento, Pesquisa e Educação em Rolfing® (Naper), com o objetivo maior de pesquisar e atender à comunidade.
Mais de mil pessoas já passaram pelo processo neste núcleo, desde então. Até hoje, Prado, seu criador, supervisiona este grupo de trabalho e pesquisa. O Rolfing® Movimento, preconizado por Rolf, foi ampliado por praticantes e pesquisadores rolfistas como Vivian Jaye, Jane Harrington e aprimorado principalmente por Hubert Godard, com a contribuição de outros muitos expoentes da escola o do legado de Rolf. O trabalho de movimento contribui para potencializar o que se solta, descomprime, com a liberação miofascial, aumentado a percepção do movimento, sobretudo de como se fazia ou se faz um mesmo movimento, ou até mesmo descobrir um novo.
Outras taxonomias são incorporadas ao trabalho, otimizando modos de se fazer a leitura – que é observar em que lugar o cliente se encontra física, funcional e emocionalmente, em cada sessão. Maitland apud Prado (2006, p. 47) divide as possibilidades de observação em física, funcional, energética e emocional. Prado readapta o modelo, dividindo em física – estrutural e funcional; e psicobiológica – emocional/psicológica, cultural/ambiental, existencial/espiritual e energética.
Hoje, a formação engloba o estrutural e o funcional juntos. Textos, livros, ensaios, pesquisas, e outros trabalhos já são incorporados na tradição oral, usada por muitos anos, de se ensinar o legado de Rolf.
Fonte: artigo da pós-graduação em Rolfing® escrito por Rosângela Maria Baía
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