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Como ensinar movimento

Redação ABR

Autora: Monica Caspari

O trabalho estrutural libera fixações nos tecidos. A educação do movimento libera fixações nos padrões de movimento.
Rolfing® Estrutural: dá as condições necessárias para o surgimento da “linha”.
Rolf® Movimento: dá vida à “linha”; leva a linha a mexer-se.
Ensinar movimento: não é corrigir, não é consertar, não é mudar o cliente.

É CRIAR OUTRAS POSSIBILIDADES para a pessoa ser e estar no mundo!

Aumentar as possibilidades de movimento do cliente significa trabalhar na fenomenologia dos movimentos mais básicos. A fenomenologia procura mais compreender do que explicar o fenômeno e toma a experiência da pessoa como o ponto de partida de suas investigações.

Começar pela “experiência” do cliente significa considerar o experienciador e sua experiência que acontece num determinado contexto.

No caso do Rolf® Movimento isto significa trabalhar na maneira como o cliente experiencia seus movimentos na relação que mantém com as outras pessoas e “coisas” no seu dia-a-dia, no contexto da força da gravidade.

A fenomenologia de um movimento não tem nada a ver com a sua biomecânica! Quanto mais biomecânicos nos colocamos tanto mais evitamos o encontro, a relação! Queremos consciência do movimento e não “cognição do movimento”. Queremos ensinar movimentos que são ordens que fluem, e não ordens que são impostas. Para isso precisamos “ouvir” 99% com o nosso próprio corpo e usar o 1% restante para induzir/evocar o movimento desejado no nosso próprio corpo! Assim nos tornamos um “esquema corporal” que se irradia para o cliente. O esquema corporal não entende palavras, mas é empático. Trabalhando com o esquema corporal organizamos o espaço do cliente e isso muda a maneira como como ele vai vivenciar seus movimentos no cotidiano.

Não podemos nunca ensinar movimento por sua decomposição. O surgimento de um movimento é uma gestalt. Precisamos primeiro “ver” a gestalt do movimento que queremos ensinar. Conhecer a lógica funcional da receita e os objetivos funcionais de cada sessão ajuda-nos a ver a gestalt do movimento que queremos ensinar.

Depois precisamos descobrir o que está impedindo a pessoa de fazer o movimento:
– fixações na percepção?
– fixações na coordenação?
– fixações nos tecidos?
– fixações no psicológico (no significado) ?

Não podemos verdadeiramente “ensinar” movimento para as pessoas porque a estrutura de coordenação é muito forte. Só podemos tentar mudar a paisagem na qual se encontra o cliente! “Mudar a paisagem” não significa mudar o entorno do cliente , mas é mudar o modo como o cliente se relaciona com o seu entorno! O maior problema para a atividade motora está na percepção, na organização do espaço: porque antes de qualquer movimento precisamos nos orientar, consciente ou inconscientemente.

Percepção não é organização motora, mas é organização espacial.

Percepção não é “sensação”. (Sensação é a transição entre o nível corporal e o emocional).

Percepção também não é consciência proprioceptiva . (Consciência proprioceptiva é a consciência das sensações que percebemos vindo do nosso corpo).

Ensinar movimento é mais trabalhar com a percepção, que organiza o espaço, do que com a consciência proprioceptiva, que pode nos trancar dentro de nós próprios! Trabalhando com a percepção afetamos as sensações, e como estas são a ponte entre o físico e o emocional podemos assim acessar e afetar o nível psicológico da pessoa sem muito drama nem “psicologia barata”. A pessoa sempre sente, mas talvez não perceba:  a linguagem organiza a percepção! Korzybski: “As palavras dão forma à percepção.” A linguagem forma a percepção do corpo e por isso precisamos achar palavras adequadas para cada pessoa que tratamos. Quando trabalhamos com a percepção precisamos nos dirigir ao imaginário, e não à imaginação! O processo imaginário cria vetores no espaço, que vão possibilitar o fluir dos movimentos, que é mais importante que sua forma. 

Para evocar um movimento bom, fluido, preciso fornecer as informações precisas e sensações com uma organização e timing corretos. Para tudo isso, preciso me relacionar de forma clara e limpa com o cliente, enquanto atuo como “um esquema corporal” que se irradia para o cliente. Para me relacionar bem, preciso ter no mínimo duas direções e separação: quero estar em mim e ter a possibilidade de ir até o outro. Quero ter a minha kinesfera e orientação espacial. E aí, sim, posso ir até o outro e tocar a sua pele.

A qualidade do toque é crucial  e especialmente poderosa para as pessoas com pouca propriocepção. Tocar o cliente onde há um “buraco” na percepção de sua pele ajuda a devolver a percepção perdida e assim recuperar as possibilidades de outros sentidos. Devo tocar o cliente ressignificar mente”: com chão e espaço. O que implica em mudar a minha organização tônica para poder informar o cliente a nível somático. Ou seja: na educação do movimento o problema não está no cliente, mas no rolfista! Portanto, novamente, não se trata de “mudar” o cliente, mas o rolfista!

Quanto à leitura corporal que é fundamental no Rolfing, (mas não no Feldenkrais e no Alexander por exemplo), o “problema” não está no cliente, mas de novo no rolfista! Ao fazer uma leitura corporal o rolfista deve livrar-se do olhar analítico e receber a informação via o seu próprio corpo, no seu próprio corpo. Devemos receber as informações no nosso corpo com empatia cinestésica e não simpatia cinestésica para não perder o centro e fundir-me com o cliente. Não é fazer leitura, mas desenvolver a sua capacidade de receber, de ressoar, de dar as “boas vindas” ao movimento do cliente. A boa leitura corporal deve ainda captar a “melodia” de alguém.

Para captar a melodia de alguém devemos aprender a ler seus movimentos nos planos sagital (flexão/extensão), frontal (abdução/adução) e horizontal. Conhecer e dominar a fundo os objetivos funcionais da receita é fundamental para se trabalhar no contexto do Rolfing.

As questões mais importantes numa leitura corporal em qualquer sessão da receita são:
–  Há suporte do chão? Do espaço?
–  Onde há falhas na estrutura de percepção do cliente?
–  Onde há falhas na estrutura e coordenação do cliente?
–  Quais são, e onde estão, os recursos deste cliente?
–  Onde posso “encontrá-lo”?

A organização da percepção e da coordenação deve levar o cliente a apreender movimentos excêntricos, que são os mais importantes para estimular e evocar a inteligência do corpo. Os movimento excêntricos exigem bastante da coordenação e dependem da condição inicial, que depende da percepção e da orientação. Quando ensinamos movimentos excêntricos precisamos dar tempo para sua exploração e reforçá-los muitas vezes e de maneiras diferentes. Existem muitos graus de coordenação: ela será tão melhor quanto mais plástica for, de modo que a pessoa seja capaz de conservá-la mesmo com mudanças de/no contexto.

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